
Diretrizes para Escrever um Roteiro
Seria possível para um mestre-de-obras construir uma casa sem compreender a planta do arquiteto?
Provavelmente, não.
Da mesma maneira, o pessoal-chave da equipe de
produção deve ter uma compreensão básica do roteiro, antes de poder
realizar o programa.
Um guia completo sobre como escrever roteiros,
para os diferentes tipos de programa de televisão, está além do escopo
deste curso. Ao mesmo tempo, esta é uma das áreas onde "conhecimento é
poder", e quanto mais você souber sobre roteirização, maiores serão as
suas chances de obter sucesso, profissionalmente.
Ao chegar ao final deste módulo, você deverá
conhecer todos os elementos estruturais importantes e ter os
conhecimentos básicos e necessários para escrever um roteiro. (Num
módulo anterior, já vimos que, muitos profissionais bem sucedidos de
produção, iniciaram suas carreiras escrevendo roteiros).
Há muitos anos, um dos meus alunos de produção
de TV estava jantando em um restaurante em Miami quando viu David
Brinkley - um dos mais experientes e respeitados âncoras de todos os
tempos - na mesa ao lado. O estudante foi até lá e se apresentou ao Sr.
Brinkley, dizendo que o seu grande sonho era ser telejornalista.
"Sr. Brinkley, que conselho o senhor me daria para ter sucesso na profissão? "
Sr. Brinkley largou o garfo, pensou e respondeu, "Três coisas: Aprenda a escrever. Aprenda a escrever. E, aprenda a escrever."
Embora você possa aprender o básico sobre como
escrever aqui ou num bom livro, a única maneira de se desenvolver e se
tornar um bom escritor é escrevendo.
Escrevendo muito!
A maioria dos escritores de sucesso passa anos
escrevendo, até conseguir se firmar no mercado - e viver do que
escreve. Num certo sentido, os fracassos iniciais não se tratam de
fracassos, mas pré-requisitos para o sucesso.
Por isso, não desespere, se os seus primeiros
trabalhos não forem premiados pela Academia Nacional ou com um Prêmio
Pulitzer. Lembre-se apenas que a lista de escritores profissionais que
passaram anos se aperfeiçoando e se desenvolvendo - sem desistir ou se
entregar ao desespero e à frustração - é tão grande quanto a própria
lista de escritores bem sucedidos.
Sucesso e genialidade, parafraseando Albert
Einstein, (um gênio reconhecido) são 10 por cento de inspiração e 90
por cento de transpiração.
Mas, primeiro, vamos aos conhecimentos básicos.
Lembre-se que escrever para a Mídia Eletrônica é
bem diferente do que escrever para a Mídia Impressa. Aqueles que
escrevem para Jornais e Revistas desfrutam de vantagens que o Rádio e a
TV não oferecem.
Por exemplo, o leitor pode, a qualquer
momento, voltar para reler a sentença. Se a frase não for compreendida
em um programa de TV, o significado se perde; ou pior, o telespectador
fica distraído por algum tempo tentando imaginar o que foi dito.
Com a palavra escrita podemos utilizar
divisões de capítulo, parágrafos, sub-títulos, e palavras grifadas por
letras em negrito ou itálico para orientar o leitor. E a ortografia, de
palavras com o mesmo som, para determinar o seu significado.
As coisas são bem diferentes quando se escreve para o ouvido.
As regras de pontuação nem sempre são seguidas.
Vírgulas e reticências são freqüentemente usadas para indicar pausas
para o locutor, já que a narração deve ser feita em tom coloquial. Com
frequência, se utilizam frases incompletas ... da mesma maneira que
numa conversa normal.
Embora tal uso seja desaprovado pelo seu
professor de Línguas - Inglês ou Português - pois, está em desacordo
com a forma padrão de escrita - a consideração principal ao se escrever
o texto da narração é a clareza.
A maneira como percebemos a informação verbal
também complica as coisas. Quando estamos lendo, nós vemos palavras em
grupos ou padrões de pensamento. Isto nos ajuda a entender o
significado da frase. Mas, quando ouvimos o que está sendo dito, a
informação é percebida palavra por palavra. Para que o significado da
frase seja compreendido, devemos reter as primeiras palavras na memória
e ir adicionando as palavras subseqüentes ...até que a sentença ou
pensamento se complete. Se a sentença é muito complexa ou muito longa,
o significado da frase se perde ou fica confuso.
Escrevendo para a TV
Roteiros de vídeo têm um estilo próprio. O
broadcast style (estilo televisivo) se caracteriza por frases curtas,
concisas e diretas.
A voz ativa é preferida à voz passiva;
substantivos e verbos são preferidos aos adjetivos; e as palavras
específicas são preferidas às palavras gerais. Na televisão, devemos
evitar as orações dependentes, no início das sentenças.
E eliminar as palavras desnecessárias. Por
exemplo, ao invés de, "neste momento " prefira "agora". Ao invés de
"curta distância ", use "perto".
Também utilizamos pontuação extra,
especialmente vírgulas, para ajudar na leitura dos textos de narração.
As vírgulas sinalizam as pausas, (como já foi dito, um procedimento nem
sempre aprovado pelo seu professor de Línguas). Apenas lembre-se o que,
e para quem, você está escrevendo quando se sentar no seu computador.
As atribuições - ao contrário do jornal
impresso - devem vir no começo da frase, ("Segundo o Ministro da
Saúde..."). Na televisão, queremos saber logo de cara "quem foi que
disse".
Comparando as Mídias Eletrônica e Impressa
podemos notar diferenças entre os estilos de linguagem... que
tipicamente ocorrem. Mas, num esforço de comunicar informações mais
rápida e claramente, alguns jornais americanos, tais como USA Today,
estão adotando um estilo mais próximo ao do broadcast style.
Uma das melhores referências sobre
simplicidade e clareza de escrever é um pequeno livro de 70 páginas
escrito por Struck and White, em 1959, chamado "Elements of Style". As
primeiras 27 páginas são especialmente relevantes a este assunto.
Correlacione Áudio e Vídeo
Os telespectadores estão acostumados a ver na
tela da TV, imagens relacionadas com o que estão ouvindo - geralmente,
sob a forma de diálogo ou narração. Por isso, para não confundir a
audiência, correlacione (relacione) som e imagem.
Isto não quer dizer que você deva ser literal.
Evite o tipo de comentário "David corre", que diz o óbvio. Se você pode
ver claramente o que está acontecendo na tela, isto irá aborrecer o seu
público. Em novelas de Rádio, muitas falas desse tipo são incluídas no
diálogo, para informar aos ouvintes sobre o que eles não podem ver.
Mas, este não é exatamente o caso da TV.
Idealmente, o diálogo ou narração deve complementar o que está sendo visto.
Sobrecarga de Informação
Com mais que 100 canais de TV e milhões de web
pages disponíveis na Internet - para citar apenas dois veículos de
comunicação - um dos maiores problemas, hoje em dia, é a sobrecarga de
informação.
Em produção de TV, a meta não é simplesmente
descarregar mais informação nos espectadores. Para ter sucesso, devemos
atrair a audiência e comunicar claramente as informações selecionadas,
de forma interessante e esclarecedora.
A capacidade do ser humano de absorver
informação é limitada. Além disso, lembre-se que o espectador típico
tem uma série de distrações externas e internas, preconceitos, etc.,
que são obstáculos ao processo de comunicação. Se o roteiro tem um
conteúdo muito denso, com muitos fatos ou se a informação não for
apresentada de maneira clara, o espectador ficará confuso, perdido e
frustrado - e simplesmente mudará de canal.
Confuso x Chato
Além da quantidade de informação que queremos
comunicar, devemos também considerar a velocidade da apresentação.
Temos de dar ao espectador a oportunidade de absorver cada idéia, antes
de passar para o próximo ponto. Se você vai depressa demais, o público
fica perdido; se vai muito devagar, acaba aborrecendo a audiência.
Em vídeos de treinamento, a melhor tática para
a apresentação de informações importantes é : primeiro, sinalizar ao
espectador que alguma coisa importante irá acontecer. Depois,
apresentar a informação, da maneira mais simples e mais clara possível.
E, finalmente, reforçar o ponto através da repetição ou com uma ou duas
ilustrações.
Em resumo, aqui estão sete regras gerais para
escrever para televisão. Algumas delas se aplicam à produção de
programas educacionais, outras a produções dramáticas, e outras a ambos
os tipos.
Assuma um tom coloquial. Use sentenças curtas e um estilo de abordagem informal.
Envolva a sua audiência emocionalmente; faça com que ela se interesse sobre as pessoas e conteúdo do programa.
Forneça uma estrutura lógica adequada; deixe o
espectador saber onde você está querendo chegar, que pontos são
conceitos chaves, e quando você vai mudar o assunto.
Após apresentar um ponto importante, faça uma exposição detalhada e ilustrada sobre o assunto.
Não tente incluir muitos assuntos no programa.
Dê à sua audiência uma oportunidade de digerir um conceito antes passar para outro.
Programe a sua apresentação de acordo com a
capacidade que o seu público-alvo tem de absorver os conceitos que
serão abordados.
A Gramática do Vídeo
Algumas pessoas afirmam que, ao contrário da
língua escrita, vídeo e cinema não têm uma gramática - convenções ou
estrutura - próprias. Embora vídeo tenha abandonado muito da gramática
estabelecida pelo cinema, mesmo nesta era da MTV, ainda podemos usar
várias técnicas para estruturar nossas produções.
Em produções dramáticas, efeitos tais como
fusão (duas imagens se superpõem, momentâneamente, durante a transição
de uma para outra) são freqüentemente um sinal de mudança de tempo ou
local. Fade-ins e fade-outs se aplicam tanto para o áudio quanto para o
vídeo, e podem ser comparados ao início e final dos capítulos de um
livro. O fade-out é um tipo de transição que consiste de dois ou três
segundos de uma imagem escurecendo até que tudo fique preto e em
silêncio. O fade-in é o inverso.
Fade-ins e fade-outs freqüentemente indicam
uma divisão no programa ou uma mudança maior, como por exemplo, uma
passagem maior de tempo. (Devemos lembrar, no entanto, que
"freqüentemente" não é "sempre").
Tradicionalmente, teleplays (roteiros de
produções dramáticas para TV) e screenplays (roteiros de filmes)
começam com fade-ins e terminam com fade-outs.
Termos e Abreviações Usados em Roteiros
E xistem vários termos e abreviações que são
freqüentemente usados num roteiro. Primeiro, existem aqueles que
descrevem os movimentos de câmera.
Quando a câmera é movida para frente ou para
trás, se aproximando ou se afastando fisicamente do objeto filmado,
chamamos o movimento de dolly . Quando o movimento é lateral utilizamos
o termo truck ou travelling.
Como veremos mais tarde, o zoom é uma versão
ótica do movimento de dolly, e tem um efeito visual parecido. Uma
anotação no roteiro pode sugerir "câmera zoom-in para um close-up de
John," ou " câmera zoom-out para mostrar que John não está sozinho."
Cortes ou takes (tomadas) são transições instantâneas de uma imagem para outra.
Existem, também, termos específicos para
designar os Planos. Em termos gramaticais, poderíamos comparar os
planos com as sentenças - na medida em que cada plano é uma declaração
visual.
cover shot (Plano de conjunto), establishing
shot , ou master shot (Plano seqüência) são designações do Plano Geral
. Este tipo de plano dá à audiência uma orientação básica sobre a
geografia da cena - quem está na cena, onde a cena se passa, etc. -
após o que, podemos cortar para planos mais próximos.
O Plano Geral - WS (wide shot) ou LS (long
shot) - não tem impacto visual, na televisão. Devido à resolução,
relativamente baixa do sistema NTSC (sistema americano de transmissão
de TV a cores) os detalhes importantes ficam difíceis de ver. Filme e
HDTV (High Definition TV) ou DTV (Digital TV) não apresentam este tipo
de problema.
Este tipo de plano deve durar apenas o tempo
necessário para orientar os espectadores sobre as relações espaciais
dos elementos importantes em cena. Depois disso, no decorrer do
programa é usado, momentaneamente, como lembrete ou para informar à
audiência sobre mudanças na cena.
As designações dos planos são encontradas de
forma abreviada, na coluna de vídeo dos roteiros de televisão. A
abreviação LS é usada para designar Long Shot (Plano Geral).
Ocasionalmente, utilizam-se as abreviações XLS (Extreme Long Shot) ou
VLS (Very Long Shot).
Aqui estão alguns exemplos de roteiro:
Roteiro de Vídeo - Produção Dramática. Roteiro de Filme - Produção Dramática . Roteiro de Comercial. Roteiro de Noticiário. Outras designações de planos que você poderá encontrar em roteiros incluem:
MLS - Medium Long Shot ou FS (Full Shot). Enquadra pessoas da cabeça aos pés. O MS corta na cintura.
O MCU (Medium Close Up) corta entre os ombros e a cintura.
O Close Up é perfeito para entrevistas. As
mudanças de expressão facial, tão importantes para se compreender uma
conversa, são vistas facilmente. Os Close-Ups também são utilizados
como takes de apoio para mostrar detalhes importantes de objetos.
XCUs são Extreme Close Ups. O XCU pode
mostrar, por exemplo, somente os olhos ou boca de um indivíduo. Com
relação a pessoas, este tipo de plano é reservado para as cenas de
impacto dramático. Com relação a objetos, o XCU é freqüentemente
necessário para revelar detalhes importantes.
Two-shot (tomada de dois) ou three-shot
(tomada de três) também abreviados como 2-S e 3-S, designam planos,
respectivamente, de duas e três pessoas.
O termo plano subjetivo indica que a audiência
(câmera) irá ver o que o personagem vê. Freqüentemente, este tipo de
plano é feito com a câmera na mão. A câmera se move - andando ou
correndo - seguindo um personagem. Planos de câmera subjetiva adicionam
drama e adrenalina às cenas de perseguição.
Os ângulos de câmera também são indicados no
roteiro. Incluindo desde a vista aérea (bird's eye view), ângulo alto,
nível do olhar e ângulo baixo. O ângulo oblíquo ou ângulo holandês tem
uma inclinação lateral de 25 a 45 graus, o que faz com que as linhas
horizontais apareçam diagonais, na tela.
Embora um roteirista, ocasionalmente, sinta
necessidade de indicar os planos e ângulos de câmera no roteiro, estas
são decisões que competem ao diretor.
Ainda assim, em roteiros de produções
dramáticas, você pode encontar os termos câmera mostra para indicar que
a câmera percorre uma determinada área na cena; câmera segue que indica
que a câmera acompanha uma pessoa ou objeto; contraplano para indicar
uma mudança de ângulo de câmera, de quase 180 graus com relação à
posição anterior; e câmera abre para indicar um zoom-out ou dolly-out.
Além desses termos básicos, existem várias outras abreviações também utilizadas no roteiro:
EXT e INT são indicações usadas em roteiros de filmes para indicar o caráter das locações - exterior e interior.
SOT (sound on tape), indica que a voz, música, ou som ambiente está numa fita de vídeo.
SOF (sound-on-film)
VTR (video-tape-recorder) gravador de videocassette.
VO (voice over) se refere à narração que
acompanha as imagens de um vídeo ou à narração que se ouve num volume
mais alto, que o da música ou som ambiente.
OSV (off screen voice). A voz indicada no roteiro pertence a alguém que não está visível.
MIC ou MIKE microfone.
POV (point of view). Roteiros de produções
dramáticas freqüentemente, indicam que o plano irá mostrar a cena do
ponto de vista de um determinado ator.
OS (over the shoulder). A imagem mostra a
parte de trás da cabeça e possivelmente um ombro da pessoa . (Também
designados como O/S e X/S )
ANNCR - locutor.
KEY - a superimposição eletrônica de títulos e créditos sobre a imagem de vídeo.
SFX ou F/X se referem a efeitos especiais de
áudio (FX) ou vídeo (SFX) que alteram a realidade e são criados durante
o processo de produção.
www.internetcampus.com
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